Linha de separação


28 de junho de 2023

A histeria das televisões portuguesas

 Três textos a ler

1) "O histerismo do Orelhas acolitado pela voz cava de MarCIA  , que a toda a força querem que o Putin  tenha saído fragilizado é simplesmente ridículo. Para a RTP este "ainda"  se mantém no poder- blá, blá , blá -por que tem o apoio do exército e dos serviços secretos...
Mas não  é  verdade que estudos de opinião russos e ocidentais lhe atribuem um apoio da população  superior ao de qualquer dirigente do G7?
E não  é  verdade que todos os partidos com assento na Duma o apoiaram no caso Wagner?
Criaram uma narrativa e agora querem à força da repetição e do histerismo que a realidade se encaixe  na sua narrativa e o Orelhas grita e gesticula...
Jornalismo de sarjeta." Simplício Facebook

2 ) Maj General Raul Lino.
 Para os meus amigos e também para aqueles que acompanham os meus escritos, apresento algumas conclusões (vistas, copiadas e adaptadas de um canal do telegram) sobre toda a situação à volta do motim do Prigozhin. De facto e apesar de tudo o que de mau resultou, sobretudo no âmbito externo, alguns resultados positivos ocorreram.  Esses são os seguintes:

1- Ninguém, mesmo ninguém, alinhou com Prigozhin. Nenhum político, nenhum militar, nenhum polícia, nenhum governador. Na realidade, nenhum dos oficiais da Wagner parece ter-se juntado à curta aventura de Prigozhin. Isso demonstrou, penso eu, uma unidade sem precedentes na Rússia. Não consigo verificar um qualquer momento na história da Rússia em que esta estivesse tão unida e em que tantos apoiassem sem tibiezas um único homem.

2- Principalmente por causa do acima exposto, esta rebelião foi esmagada de uma forma incrivelmente rápida. Ao meio-dia, ficou claro para todos que o "granel" tinha acabado, inclusive para Prigozhin.  Ele não começou a conversar com Alexander Lukashenko porque “não queria derramamento de sangue”. Começou essa conversa porque sabia que tudo estava terminado para ele. Na realidade, a rebelião durou só cerca de 15 horas. E isso, por sua vez, evidencia a incrível força de Vladimir Putin.

3- O Ministério da Defesa conseguiu finalmente  o que queria já há algum tempo, livrar-se de Prigozhin, que era uma carta fora do baralho e uma fonte de problemas. Além disso, não há evidências até ao momento que Gerasimov ou Shoigu serão demitidos. Por outro lado, Prigozhin será enviado na prática para um exílio e até deverá estar grato por esse facto.

4- Cerca de 25.000 combatentes da Wagner serão incorporados no exército russo - não haverá mais PMCs à solta, não haverá mais “pretorianos” e não haverá mais divisão ou uma competição doentia dentro das forças armadas.

5- Ficou claro para todos, incluindo para os líderes da  OTAN, que Putin está firmemente no comando.

6- Resultou óbvio que estavam erradas as suposições de Prigozhin sobre um sistema militar e político incompetente, sobre a existência de divisões internas e sobre a fragilidade do estado da Rússia.

7- Acho que as lições foram aprendidas e que não serão repetidas. Facebook.

3) Maj General Carlos Branco  
LINHAS VERMELHAS” - por Carlos Branco, Major-General e Investigador do IPRI-NOVA

Tem sido recorrente alguns comentadores, não apenas em Portugal, criticarem a timidez e as hesitações dos decisores europeus quanto ao apoio militar a prestar à Ucrânia, sobretudo no que toca ao fornecimento de armamento que os ucranianos possam utilizar para atacar território russo, algo considerado pelo Kremlin uma linha vermelha.
Argumentam tratar-se de um receio infundado. Afinal as ameaças de retaliação de Moscovo não passam de conversa fiada. Para eles, sem responsabilidades governativas, não existem problemas em fornecer equipamentos que possam atingir a Rússia na sua profundidade estratégica. Afinal, as ameaças do Kremlin não são para levar a sério.
Como estão aparentemente esquecidos, convém fazer um breve repasso histórico para lhes avivar a memória sobre como o Kremlin tem respondido a quem se esquece das suas linhas vermelhas. Podemos começar pelo convite feito pela NATO à Ucrânia e à Geórgia, na cimeira de Bucareste, em abril de 2008, e à tentativa de Shakhasvilli colocar a Abkhazia e a Ossétia do Sul sob o controlo de Tbilisi. O resultado foi uma guerra na Geórgia, que Washington procura agora reativar, para abrir uma segunda frente no confronto militar com a Rússia, recorrendo mais uma vez a uma guerra por procuração.
Em 2014, os EUA voltaram a pisar uma linha vermelha ao financiar e promover um golpe de estado para instalar em Kiev um regime hostil a Moscovo. A resposta russa foi a invasão da Crimeia. Não satisfeitos com isso, armaram e treinaram as forças ucranianas para, numa primeira fase, subjugarem os rebeldes do Donbass, e numa segunda, expulsarem as forças russas da Crimeia.
Quando em fevereiro de 2022 o Exército ucraniano se preparava para atacar o Donbass, Moscovo antecipou-se e invadiu a Ucrânia transportando-nos para uma guerra que dura há quase um ano e meio. A tentativa de Kiev subjugar a população ucraniana russa pela força era outra linha vermelha, para além de no futuro tornar a Crimeia vulnerável. Já durante a guerra, a tentativa de Kiev isolar a Crimeia da Rússia através da destruição da ponte de Kerch, provocou uma campanha aérea sem precedentes, que causou a destruição generalizada de infraestruturas energéticas ucranianas. Apesar destas respostas, os comentadores continuaram a ver falta de coragem em Moscovo não havendo, por isso, razões para não se continuar a aumentar a escalada.
Entretanto, a Rússia colocou armas nucleares táticas na Bielorrússia. Provavelmente, não terão ainda percebido que esse passo tem a ver com a possibilidade de a Polónia vir a pisar mais uma linha vermelha e invadir a Bielorrússia. Varsóvia está cada vez mais autónoma, e a alavancagem de Washington sobre os polacos é cada vez menor.
Sem perceberem que a adesão da Ucrânia à NATO é uma linha vermelha para Moscovo, que explica a atual guerra e justificará outras de natureza existencial, os deputados no Parlamento Europeu aprovaram uma resolução, por uma larga maioria, apelando à NATO para convidar a Ucrânia a aderir à Aliança.
Mais recentemente, o ministro da defesa russo veio avisar que se a Ucrânia atingir território russo com misseis americanos e ingleses de longo alcance isso os arrastaria para o conflito e os centros de decisão na Ucrânia seriam atacados. Provavelmente não será aconselhável voltar a testar Putin em matéria de linhas vermelhas.

“O Jornal Económico”, 23 de Junho de 2023

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