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10 de junho de 2023

A guerra da Ucrânia, a terceira guerra do dólar - 1

 A primeira foi a guerra contra o Iraque de Saddam Hussein. A segunda foi a guerra contra a Líbia de Khadafi. E a terceira, portanto, contra Moscovo no território da Ucrânia, simplesmente porque não podem fazer guerra contra a Rússia diretamente no país. É apenas uma guerra híbrida e por procuração contra a Rússia.

Países como o Iraque e a Líbia são grandes potências energéticas que ousaram colocar o dólar em perigo. Em Fevereiro de 2003, Saddam Hussein cumpriu a ameaça de parar de vender petróleo e gás em dólares, foi o primeiro a levantar a questão da legitimidade do dólar. Assinou sua sentença de morte. Um mês depois, os EUA invadiram o Iraque. O número de vítimas é estimado em um milhão, metade das quais menor de idade. Sem falar nas centenas de milhares de mortes nos anos seguintes em resultado da destruição da infraestrutura social e económica do país. Nos próprios EUA, analistas dignos desse nome, reconhecem isto.

Em 2009, a Líbia, Muammar Kadhafi, então presidente da União Africana, propôs criar uma união monetária pan-africana. As exportações de petróleo e outros recursos naturais do continente negro seriam pagas numa nova moeda que ele chamaria de dinar de ouro. Também assinou a sua sentença de morte.

Com Moscovo, isso não foi possível. A Rússia não é o Irão, o Iraque ou a Líbia. Com a Rússia, os Estados Unidos só poderiam agir indiretamente. Moscovo realmente ameaçou o status do dólar no cenário internacional e, consequentemente, toda a economia dos EUA por trás dele. Assim que Putin chegou ao poder, a Rússia, uma das principais potências energéticas, iniciou o processo de liquidação dos títulos do Tesouro dos EUA. De 2010 a 2015, reduziu pela metade o número de títulos do Tesouro americano que detinha, sendo um dos maiores detentores do mundo, hoje não tem quase nenhum. Quantidades gigantescas de produtos energéticos começaram a ser pagas em yuan e rublos. Era o início do início da nova guerra que começava a ser preparada e que conhecemos desde fevereiro de 2022.

A China também está gradualmente livrando-se de dívida dos EUA. Em 2015, a China detinha mais de 1270 mil milhões de dólares de títulos do Tesouro, hoje está na casa dos 950 mil milhões.

Em fevereiro de 2022, passou-se à fase ativa da guerra que dura há quase 10 anos. Rússia e China, em conjunto, estão levando bancos centrais de todo o mundo a repensar os méritos dos seus investimentos em títulos do Tesouro dos EUA. Não há nada por trás do dólar. Nada tangível. O valor do dólar hoje não tem absolutamente nada a ver com ativos reais. Seu valor é sustentado pelos media e pelo domínio militar.

O euro não vai substituir o dólar, porque a política europeia está profundamente sujeita à vontade dos EUA. Os EUA nunca permitirão que a moeda do vassalo os ofusque. E com o nível de mediocridade dos altos funcionários, ou melhor, diga-se da irresponsabilidade da UE e da maioria dos chefes de Estado que a compõem, os americanos e a sua moeda não têm realmente nada a temer do lado do euro. As iniciativas dos líderes europeus são tão antieuropeias e antinacionais que mais parecem cônsules honorários dos Estados Unidos do que qualquer outra coisa.

Na cena internacional, as autoridades de Bruxelas não têm peso político, são apenas figurativas. Nenhuma potência no mundo, incluindo os Estados Unidos, reconhece a UE como um interlocutor sério e prefere tratar separadamente ao nível dos Estados-Membros.

A UE tornou-se uma espécie de hidra disfuncional, cada cabeça com as suas próprias ideias. É gratificante ver que só a Rússia conseguiu fazer com que essas cabeças apertassem. Foram o medo, o ódio e as fobias que os aproximaram mais do que qualquer outra coisa no projeto europeu.

Ao falarmos das consequências das sanções ocidentais contra a Rússia, a primeira pergunta a fazer é: as sanções atingiram os objetivos fixados em tempo e magnitudes pré-calculadas? Os factos são conhecidos, embora minimizados e distorcidos por seus autores, a fim de salvar a face: os objetivos das sanções eram o colapso da economia da Federação Russa que deveria levar, à capitulação da Rússia no conflito na Ucrânia. O resultado é um fracasso total.

As sanções que tinham maior hipótese de sucesso foram postas em prática logo no início do confronto, visando o sistema financeiro da Rússia, a capacidade de sectores públicos e privados levantarem capital dos mercados financeiros globais e a desconexão de centenas de bancos russos do sistema Swift. Pretendiam ser suficientes para atingir o colapso da economia russa em menos de doze meses. Todas as outras ondas de sanções, são apenas gesticulações bastante caóticas devido ao colapso do projeto ocidental inicial.

Declarações sobre a aniquilação da economia russa, como as de Obama e outros, só demonstram amadorismo flagrante. Em apenas alguns anos de sanções, a Rússia passou de importador de produtos agroalimentares para exportador. Outros sectores estão a tornar-se autossuficientes e, no final das hostilidades russo-ocidentais, tornar-se-ão quase impenetráveis para os agentes económicos europeus.

Empresas dos setores de energia e defesa contornam facilmente as sanções simplesmente recusando-se a usar o dólar em suas transações internacionais em benefício da moeda russa e do país parceiro. Isso acelera o processo de desdolarização do mundo, moeda que se tornou altamente tóxica.

Texto completo em: "A guerra na Ucrânia é a guerra do dólar" (Parte 2) -- Oleg NESTERENKO (legrandsoir.info) Oleg Nesterenko presidente do Centro Europeu de Comércio e Indústria representa a França nos interesses da Câmara de Comércio e Indústria Russa.

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