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23 de junho de 2023

A maioria do países está a aproximar-se da China e a afastar-se dos EUA

 É um facto. A maioria do países aproxima-se da China e da Rússia e afasta-se dos EUA e da UE. Sabe-se como as sanções à Rússia foram ignoradas por países que representam 85% da população do globo. Bastava este facto, para no ocidente se fazer um exame de consciência e arrepiar o caminho da arrogância e estupidez que tem caracterizado as suas políticas. O isolamento da Rússia ficou bem evidenciado no recente Fórum Económico Internacional de São Petersburgo, com a presença de 150 delegações oficiais de 130 países.

Podem os comentadores falar em “comunidade internacional” e “mundo civilizado” referindo-se à NATO e aliados, não dando conta como para o resto do mundo isto pode ser ofensivo, porém na realidade agora apenas se tornou motivo de troça.

Michael Hudson é talvez o mais importante economista vivo a nível mundial. Critico demolidor – e muito didático – do neoliberalismo, as suas teses parecem-nos entre o marxismo e um keynesianismo de esquerda. Nem um dos seus livros foi traduzido em Portugal! Podemos imaginar o que significa para o país o facto dos jovens universitários e licenciados serem forçados a ignorar as suas teses.

A experiência da China e do seu “socialismo com características chinesas” tem-lhe merecido toda a atenção sendo escutado na China onde tem feito conferências. Eis algumas notas sobre uma sua entrevista a uma revista alemã (1):

Desde que Reagan e Thatcher privatizaram o setor público, o setor procura obter lucros, com desmembramento do setor público. Nos Estados Unidos, os custos subiram muito. Por exemplo, a saúde privatizada nos EUA representa 18% do PIB.

A China avança usando os setores produtivos do governo para subsidiar necessidades básicas. A China não só manteve as infraestruturas básicas no domínio público, mas a utilidade pública mais importante no domínio público, a BANCA. O Banco da China cria o crédito e a sua função não é criar Crédito Público para empréstimos de aquisição de empresas e reduzir o emprego, é ajudar a economia a crescer. A função do banco controlado pelo governo é aumentar o investimento produtivo, o emprego e a construção de habitações, para suprir as necessidades básicas da economia e da população.

É a isto que os Estados Unidos dizem autocracia. Dizem que a China é uma autocracia porque tem bancos públicos em vez de deixá-los em mãos privadas Obviamente as autocracias são países socialistas com uma economia mista onde o governo fornece necessidades básicas públicas que as democracias não têm. As democracias abolem a infraestrutura, privatizam-na, geralmente vendendo-a a compradores americanos ou europeus.

É dizer que não existem necessidades humanas básicas, a terra, a habitação são mercadorias para obter ganhos financeiros cobrando rendas ou que as pessoas têm que se endividar para comprar. Não existe uma necessidade pública de saúde, a saúde não é um direito básico, é uma oportunidade de monopólio para as empresas farmacêuticas e as seguradoras de saúde obterem enormes ganhos. Ter um emprego não é um direito público e perder um emprego é o direito da classe financeira e empresarial de criar desemprego suficiente para manter os salários baixos, para que os lucros possam subir. (Na versão do ocidente) basicamente, uma democracia é um país que vive no curto prazo para interesses privados e ganhos financeiros.

Uma “autocracia” leva em conta o planeamento de longo prazo e mantém o planeamento no setor democraticamente eleito, não nas mãos de centros financeiros como Wall Street, Paris, a cidade de Londres ou outros centros bancários, (como o BCE). A divisão real do mundo e não é democracia versus autocracia, é financeirização versus economias mistas socializadas. 

O Ocidente desindustrializou-se substituindo o capitalismo industrial pelo capitalismo financeiro, numa tentativa de manter salários baixos, mudando-se para o exterior para empregar mão de obra estrangeira e, em seguida, para tentar estabelecer privilégios de monopólio, tornando-se economias rentistas.

A escolha do Ocidente de privatizar e financeirizar a sua infraestrutura básica, desmantelando o papel do governo e transferindo-o para os centros financeiros, deixou-o com pouco a oferecer a outros países – exceto a promessa de não bombardeá-los ou tratá-los como inimigos se eles procurassem manter a sua riqueza nas suas próprias mãos em vez de transferi-la para transnacionais dos EUA.

O resultado é que, quando a China e outros países constroem suas economias são tratados como inimigos. É como se os diplomatas dos EUA vissem que o jogo está perdido, e que sua economia se tornou tão endividada, privatizada e de alto custo que não pode competir, que simplesmente espera continuar a manter os outros países tributários e dependentes pelo maior tempo possível até que o jogo finalmente acabe.

Texto completo em: Michael Hudson dá uma entrevista a uma revista alemã | A Vinha do Saker (thesaker.is)



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