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27 de junho de 2023

Quão perto estamos de uma guerra nuclear?

 Não sabemos. Mas o perigo existe e é real. Na guerra da Ucrânia, a NATO tem aumentado a parada e ver a reação russa, das sanções aos F-16, passando por misseis de cada vez maior alcance e munições de urânio empobrecido, etc. A intensificação de voos com aeronaves capazes de transportar armas atómicas junto às fronteiras russas, faz parte deste esquema que assume a forma de evidente provocação. Os media apresentam-no como algo absolutamente natural.

A estratégia russa tem sido algo incoerente, como prova a cena do grupo Wagner: por um lado fala em Operação Militar Especial, por outro considera que os EUA/NATO querem destruir a Rússia desmembrando-a em várias repúblicas independentes controladas pelos EUA.

No Fórum Económico Internacional, Putin expôs a estratégia nuclear da Rússia: se a existência do Estado russo estiver ameaçada, eles serão usados. No entanto, acrescentou, não há necessidade de usar tais instrumentos neste momento.

Recentemente, Moscovo começou a implantar armas nucleares na Bielorrússia. Ao mesmo tempo, abriu-se um debate público a nível nacional sobre a possibilidade de uma primeira utilização de armas nucleares contra a NATO no contexto da guerra por procuração na Ucrânia.

Os EUA e a Europa Ocidental esperam que a Rússia sofra uma derrota estratégica no conflito, mas as coisas não caminham nessa direção. A contraofensiva ucraniana esgota-se e está a causar pesadas perdas a Kiev. As entregas ocidentais de sistemas de artilharia, tanques e mísseis, não tiveram um impacto decisivo. O exército russo, por sua vez, aprendeu com erros do passado e a Rússia conseguiu quase triplicar a produção de armas e munições. A outrora poderosa indústria de militar da Ucrânia foi praticamente destruída.

Perante esta situação, há o risco de transformar o conflito ucraniano numa verdadeira guerra entre a Rússia e a OTAN, sendo improvável que tal guerra permaneça convencional por muito tempo, com a possibilidade de um intercâmbio nuclear entre a Rússia e os Estados Unidos que destruiria o mundo.

Para além de um certo ponto, a escalada armamentista - entrega de F-16 e mísseis de longo alcance - pode transformar-se em roleta russa. É por isso que Putin confirmou que a opção nuclear, não está descartada. Nenhuma potência nuclear pode aceitar a derrota frente a outra sem exercer a opção final.

O verdadeiro caminho que pode ser traçado é o do compromisso de longo prazo, levando a Rússia a vencer por causa de seus maiores recursos, resiliência e disposição para fazer sacrifícios do que o ocidente. Como todas as estratégias baseadas em resistência, será testada tanto dentro do país quanto na linha de frente. (1)

É neste contexto que surgem na Rússia adeptos do uso de armas nucleares, para resolver o conflito. Karaganov publicou um artigo, "Uma decisão difícil, mas necessária", na revista Russia in Global Affairs, argumentando que, as políticas do ocidente buscam a derrota estratégica da Rússia. Na sua opinião, a Rússia carece da capacidade militar convencional para alcançar algo mais do que um conflito “congelado” na Ucrânia que a condenaria a um estado de conflito perpétuo, assim a Rússia deve “construir uma estratégia de intimidação e dissuasão e até mesmo o uso de armas nucleares” que, se feito corretamente, o “risco de retaliação” ao território russo pode ser reduzido a um mínimo absoluto”. “Apenas um louco”, nos EUA terá a coragem de contra-atacar em defesa dos europeus, colocando seu próprio país em risco. Tanto os EUA quanto a Europa”, conclui Karaganov, “sabem disso muito bem, mas simplesmente preferem não pensar nisso”.

A realidade é que, graças às políticas irresponsáveis dos EUA e seus aliados, que expandiram a NATO até as fronteiras russas, há uma guerra entre a Rússia e Ucrânia que resultou na perda irrevogável da Ucrânia de 20% de seu território (Kherson, Zaparizhia, Donetsk e Lugansk, junto com a Crimeia).

Se a Rússia perdesse, necessariamente desencadearia o uso de armas nucleares. Contudo, na NATO continuam a alimentar a fantasia da retomada desses territórios pela Ucrânia como um resultado desejável. Será que o público americano (ou europeu) considerara as possíveis consequências dessa ação? Estão dispostos a sacrificar a humanidade para apaziguar as sensibilidades pro-ucranianas? A resposta parece ser não."

Se essa insanidade continuar inabalável, as luzes se apagarão para toda a humanidade. Compreenda-se isto da próxima vez que se apoiar a contra-ofensiva ucraniana ou se aplaudir o uso de dólares dos contribuintes americanos (ou euros na UE) para financiar a Ucrânia. Já é hora do público reconhecer que nossa única esperança num futuro sobrevivente é aquele em que o controle de armas e o desarmamento nuclear voltem a servir como a pedra angular da relação EUA-Rússia, e que o caminho mais curto possível para alcançar esse objetivo é a Rússia vencer a guerra na Ucrânia. (2)

1 - Dmitry Trenin - Membro do Conselho Russo para Assuntos Internacionais. Texto em Poutine vient de révéler la stratégie russe pour mettre fin au conflit ukrainien | Le Saker Francophone

2 - SCOTT RITTER: On Horseradish & Nuclear War (consortiumnews.com)

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