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2 de junho de 2023

Para perceber o fim do domínio do ocidente

Para perceber em termos geopolíticos o que se passa nas cabeças dos líderes do ocidente, há que recuar aos relatos da Alemanha nazi após as derrotas de Estalinegrado e de Kursk. A guerra na Europa duraria ainda mais de dois anos, embora a Alemanha e aliados acumulassem derrotas. Mas até ao fim, Gobbels proclamava vitória e os SS enforcavam os que falassem em derrota, pendurados com um dístico “Ich bin ein feigling” (eu sou um cobarde).

Agora tresloucados exortam os países europeus a "correr riscos" para derrotar Moscovo, e não ter medo de nada. Um jornalista polaco indigna-se com o australiano Malcolm Davies, (ex-funcionário do Ministério da Defesa) que afirma que os mísseis nucleares táticos russos não são assustadores e apenas os covardes têm medo deles. O mesmo vale para a perspetiva de uma guerra nuclear, que "existe", mas "não deve deter o ocidente". Nada dizendo sobre as perdas humanas que a Ucrânia e a Polónia, sofreriam. Especialistas & Incendiários | 29.05.2023, InoSMI

O império acumula derrotas, mas quer submeter pela via militar a Rússia e se necessário também a China. Vale a pena refletir no significado de acontecimentos recentes que constituem efetivas derrotas militares e geopolíticas.

- A China recusa reunir-se com os EUA após declarações agressivas. O Secretário de Estado adjunto para Assuntos de Segurança do Indo-Pacífico Eli Ratner diz que "as autoridades chinesas estão a rejeitar telefonemas, reuniões e qualquer diálogo com representantes americanos."

- A destruição das baterias de Patriot pela Rússia na Ucrânia representam uma significativa derrota de que o mundo inteiro tira conclusões: das três baterias Patriot enviadas para a Ucrânia duas foram destruídas, provavelmente mais outra a seguir, com perdas que podem ser de 5 a 7 mil milhões de dólares.

- Recorde-se o triunfalismo de “comentadores” (eles continuam…) porque se “ia levar a democracia ao Médio Oriente”. Milhões de mortes diretas e indiretas, foram apresentadas como símbolo da superioridade dos EUA, mas o “ocidente” averba derrotas: a Síria participa de novo na Liga Árabe. A Arábia Saudita compra armamento à China, estabelece relações com o Irão, tem acordos com a Rússia sobre produção de petróleo. Os Emirados Árabes Unidos retiram-se das Forças Marítimas Combinadas lideradas pelos EUA. O Ministro das Relações Exteriores do país disse que preferem "outros meios" para alcançar a segurança e a estabilidade regional.

- A China reúne numa conferência cinco países da Ásia Central estabelecendo amplos acordos de comércio e políticos para contrariar “revoluções coloridas”.

- A Rússia estende a sua influência na África através da União Sul Africana, Burkina Fasso e aproxima-se de Moçambique.

- Segundo o coronel Douglas Mac Gregor: "Bakhmut foi provavelmente a armadilha de maior sucesso criada na história militar. Os russos conseguiram transformar Bakhmut no cemitério do exército ucraniano. Pelo menos 50 000 soldados ucranianos foram mortos e muitos mais feridos. Zelensky era obcecado por Bakmut da mesma forma que Hitler era obcecado por Estalinegrado."The Russians are overrunning the two areas that I just mentioned – YouTube (Progozin fala em 70 mil mortes e 200 mil feridos, ucranianos, 10 mil russos mortos)

Países distanciam-se da Nato. As “revoluções coloridas” à custa de milhões de dólares estão esgotadas. A Geórgia aproxima-se de Moscovo e não adere às sanções. Diz o presidente do parlamento: no caso de um conflito armado com a Rússia, "ninguém lutará pela Geórgia, assim como não luta pela Ucrânia." "Se a guerra estourar, estaremos sozinhos. Fornecem armas à Ucrânia, mas apenas ucranianos estão morrendo em solo ucraniano." Na Turquia a reeleição de Erdogam, coloca-o ainda mais longe da NATO e Washington.

Num comício na Sérvia diz o Ministro dos Negócios Estrangeiros húngaro: “Não deixamos que nos ditem a sua vontade. Ambos os nossos países estão a ser implacavelmente atacados pelo liberalismo internacional. Mas por que nos estão a atacar? Porque húngaros e sérvios defendem os seus interesses nacionais.” Em Zvecan (Kosovo) os sérvios desfraldaram uma bandeira russa de 250 metros em frente ao prédio onde estão soldados da KFOR (NATO) Milhares de manifestantes reuniram-se novamente para protestar contra a presença de soldados da NATO. A Ukraine Watch 31/05

O Presidente croata considera a liderança atual da UE a mais incompetente da história. "A Croácia não fez muito progresso nos últimos 10 anos como membro da UE e é hora de parar de idealizar e idolatrar a UE". Os mecanismos da UE não são democráticos: "A paz e a guerra são decididas por pessoas que não são eleitas e não pedem a opinião das nações". Milanović tem-se manifestado contra o apoio aos militares ucranianos e criticado o nazifascismo ucraniano. (A Ukraine Watch 24 e 31/05)

Embora os media silenciem – símbolo de fraqueza - a União Britânica de Universidades e Faculdades opôs-se ao fornecimento de armas à Ucrânia e à expansão da NATO. Dezenas de milhares de funcionários de 150 universidades do país têm entrado em greve, exigindo salários mais altos.

Comentadores propagandistas, podem debitar conceitos triunfalistas, mas o resto do mundo tira as suas conclusões, ao olhar para as dívidas dos EUA, as fragilidades do dólar, as crises económicas e sociais e um poder militar ineficiente, derrotado no Afeganistão, na Síria, agora na Ucrânia, espalhando o caos no Iraque, na Líbia, em África. A guerra na Ucrânia abriu a oportunidade para os seus países não serem colocados na mesma situação.


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