Recordar :
1,2% dos adultos possuem 47,8% da riqueza mundial, enquanto 53,2% possuem apenas 1,1% do Credit Suisse.
Enquadrado numa profunda intensificação das lutas pela governação global que têm como protagonistas as grandes potências económicas do G2: EUA vs. China, e dias antes da Assembleia Geral da ONU ser realizada em Nova Iorque, os discursos e posições dos países que estão parte do grupo, dão relevância política e económica ao encontro. A isto acrescenta-se que este ano Cuba, o país anfitrião, representa uma longa história de resistência e luta contra o imperialismo norte-americano.
O que é o G77 + China?
O grupo nascido num contexto de Guerra Fria, em 1964, após a assinatura da “Declaração Conjunta dos Setenta e Sete Países em Desenvolvimento”, representa um espaço de consulta diverso da esfera multilateral que conta atualmente com 134 estados membros representando dois terços dos membros da Organização das Nações Unidas e 80% da população mundial. A China, que aderiu em 1992, embora seja considerada membro oficial, participa e colabora externamente.
Essa história e formação conferem-lhe um poder de negociação significativo em questões como o desenvolvimento sustentável, o comércio internacional, a dívida externa e as alterações climáticas. A Presidência, hoje nas mãos de Cuba, é o órgão político máximo dentro da estrutura organizacional do Grupo dos 77 e da China, que gira por região (entre África, Ásia-Pacífico e América Latina e Caribe) e é exercida por um período de tempo anual em todos os capítulos. O Presidente, que atua como seu porta-voz, coordena a ação do Grupo em cada capítulo.
O posicionamento do Sul Global
Após quase sessenta anos de existência, o Grupo dos 77 e a China conseguiram manter-se unidos ao multilateralismo como princípio orientador das estratégias de cooperação Sul-Sul, apesar das marcadas diferenças culturais, geográficas, económicas, sociais e políticas dos países que o compoem.
Muitos dos problemas que os uniram na década de 1960 não só não foram resolvidos como tornaram-se mais agudos. Vivemos tempos de crise sistémica: económica, sanitária, climática, energética, alimentar, social. E no meio de tudo isto persiste uma escalada das tensões geopolíticas e a imposição de hegemonia entre os países mais poderosos de todo o planeta.
Ao assumir a presidência, em janeiro deste ano, o Presidente cubano, Miguel Díaz-Canel Bermúdez, emitiu uma mensagem na qual ratificou o compromisso do seu país com a paz e a luta justa do povo, expressando que “Será sempre é o momento da unidade, mas hoje é um imperativo, a maior de todas as emergências!” “Contar com Cuba e com o seu compromisso invariável de trabalhar incansavelmente, em conjunto com todos os membros deste grupo essencial, na defesa dos interesses supremos das nossas nações”, disse o presidente.
Estarão presentes nesta reunião, entre outros, Antonio Guterres, Secretário Geral da ONU, os líderes Luiz Inácio Lula da Silva, do Brasil; Alberto Fernández, da Argentina; Xiomara Castro, de Honduras, e Ralph Gonsalves, primeiro-ministro de São Vicente e Granadinas, segundo seus respectivos ministérios das Relações Exteriores e meios de comunicação.
Também confirmaram presença os presidentes Abdelatif Rashid, do Iraque; Luis Arce, da Bolívia; Gustavo Petro, da Colômbia; Filipe Nyusi, de Moçambique; Ranil Wickremesinghe, do Sri Lanka, e Thongloun Sisoulith, do Laos, entre outros. Embora o Presidente chinês não participe na reunião, Li Xi, actual secretário da Comissão Central de Inspecção Disciplinar e membro do Comité Permanente do Politburo do Partido Comunista Chinês, estará no seu lugar.
O papel da China no G77
O embaixador de Cuba na Argentina, Pedro Pablo Prada Quintero, afirmou nesta terça-feira em entrevista ao Télam que a cúpula representa “um passo importante no progresso em direção ao objetivo de um mundo multipolar” que abre caminho para uma nova ordem, já que “O a actual não garante a segurança económica, a segurança alimentar, a paz entre os nacionais, o desenvolvimento, a justiça social ou a igualdade entre os seres humanos.”
A questão obrigatória é então: qual é essa ordem e quem a contesta, para impor aquela que tem em conta, prioritariamente, os seus interesses? Podemos falar de multipolaridade, para além das aspirações bem intencionadas? A verdade é que, para além das ambições de gerar projectos estratégicos alternativos, o mundo hoje está instalado numa luta entre dois pólos de poder que institucionalmente se apresentam para nós como os Estados Unidos e a China, mas que constituem uma complexa rede de redes financeiro-tecnológicas .
Neste contexto internacional, a China procura estender o seu projecto estratégico sobre o dos Estados Unidos. É também este projecto, já em curso, com pretensões e condições de alargar o seu domínio, que vê a América Latina como uma grande região em disputa, pelos seus recursos naturais (lítio, gás, petróleo, minerais, terras raras), pelos seus “mercados ”da produção e do consumo, e pela sua mão-de-obra qualificada e “barata”.
A China tem vindo a aprofundar e a ampliar a sua influência nos países do Sul Global através de diferentes acordos comerciais e de investimento direto, além de projetos políticos e económicos como os BRICS ou a Rota da Seda.
A verdade é que, face à profunda crise que o mundo atravessa e ao agravamento do conflito para, nas palavras de Joe Biden, “dominar o século XXI”, abrem-se oportunidades para o surgimento de processos de transformação a favor da as grandes maiorias. Às oportunidades apresentadas pelos diferentes fóruns de debate ou espaços de integração, devemos ser capazes de impor uma vontade política de unidade, baseada na organização dinâmica e consciente dos sectores populares para que, nem do Oriente nem do Ocidente, uma sociedade extrativista estratégia é imposta aos países da região e aos países em desenvolvimento em geral.
*Cacciabue é formado em Ciência Política e Secretário Geral da Universidade de Defesa Nacional, UNDEF na Argentina. Giménzs é formado em Psicologia e mestre em Segurança e Defesa Nacional e em Segurança Internacional e Estudos Estratégicos. Ambos são pesquisadores do Centro Latino-Americano de Análise Estratégica (CLAE)
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