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30 de setembro de 2023

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 Dez anos depois de ter sido inaugurado pela antiga Portugal Telecom (PT), o centro de dados da Covilhã está prestes a mudar de mãos, sem nunca ter atingido a dimensão com que foi anunciado.

Apresentado ainda em 2011 pelo antigo presidente executivo da PT Zeinal Bava como um investimento de 30 a 50 milhões de euros num dos maiores e mais sofisticados centros de armazenamento de dados da Europa e do mundo, o “cubo” da Covilhã iniciou a actividade em Setembro de 2013. Menos de dois anos depois, na sequência da derrocada do BES e da PT, já era património da Altice, que em Junho de 2015 concretizou a compra da PT à empresa brasileira Oi.

Agora, está na lista de activos para venda de uma empresa a braços com uma dívida gigantesca — mais de 55 mil milhões de euros. O grupo liderado por Patrick Drahi, que se viu recentemente afectada pelo caso judicial Operação Picoas, em que estão a ser investigados alegados crimes de corrupção e fraude fiscal que envolvem o português Armando Pereira, tem sobre a mesa a alienação de vários activos não estratégicos, em que se incluem o centro de dados da Covilhã, mas também mais de duas dezenas de centros de dados em França.

À semelhança do que já aconteceu com a venda de parte da rede de fibra e das torres de telecomunicações móveis da Meo, estas vendas representam dinheiro fresco que pode apoiar o plano de redução do endividamento (segundo o site Eco, há pelo menos quatro mil milhões de euros de dívida da Altice France e da Altice International que vencem até 2026).

Menos de 300 trabalhadores

Embora a empresa não se tenha comprometido com datas concretas, entre o final deste ano e o início do próximo deverá ser conhecido o novo dono do centro de dados. Segundo o Jornal Económico, a Altice espera encaixar cerca de 100 milhões de euros com esta venda e a entidade mais bem posicionada na corrida é o fundo do ex-secretário de Estado das Infra-Estruturas Sérgio Monteiro, o Horizon Equity Partners. Não seria uma estreia, já que, em 2018, esta foi das entidades que investiram nas torres de telecomunicações da Altice.

Para o presidente da Câmara Municipal da Covilhã, Vítor Pereira, “mais do que a propriedade do centro de dados, o importante é a actividade em si, o aumento da capacidade de armazenamento e, simultaneamente, a criação de mais postos de trabalho”. “Os engenheiros que ali trabalham e que aqui se fixaram são mão-de-obra qualificada que muito podem contribuir para o desenvolvimento da nossa economia”, diz ao PÚBLICO.

O centro de dados da Covilhã, “inaugurado três ou quatro dias antes” de Vítor Pereira assumir a liderança da autarquia, “passou desde cedo por algumas vicissitudes”. Mas comprada a PT pela Altice, em 2015, a autarquia acalentou “sempre a esperança de que a qualquer altura se pudesse avançar com os outros dois blocos” que chegaram a ser planeados por Bava e que teriam permiuma tido que (segundo as estimativas iniciais da PT) estivessem “ocupados 75.500 metros quadrados (o equivalente a 11 campos de futebol ou 340 campos de ténis)” e criados cerca de 400 postos de trabalho directos e outros mil indirectos.

Até agora isso não aconteceu. Há um único bloco (um cubo com 33 metros de altura e três mil metros quadrados) e, segundo a Altice, naquele edifício trabalham menos de 300 pessoas, das quais só 80 ligadas directamente ao centro de dados. Ainda assim, a empresa liderada por Ana Figueiredo refere que “desde o início da operação da Altice em Portugal foram criados mais de 500 postos de trabalho na Covilhã”.

Em 2013, no dia da inauguração, Zeinal Bava reconhecia que o custo do projecto havia aumentado, para 90 milhões de euros, além de ter admitido que só haveria aumento de capacidade se a procura de mercado justificasse. Segundo resposta da Altice ao PÚBLICO, “desde o início foram investidos cerca de 100 milhões de euros em infra-estruturas” naquele empreendimento.

Para avançar, o data center recebeu fundos comunitários “no valor de aproximadamente 15 milhões de euros, parte dos quais são reembolsáveis”, num total de “quatro milhões de euros”. Este dinheiro tem estado a ser devolvido “dentro dos prazos previstos, à AICEP [Agência para o Investimento e Comércio Externo de Portugal]”, assegurou a Altice.

Segundo as declarações à imprensa na altura, o antigo presidente da PT revelava também que as operações do centro de dados arrancavam com contratos com cerca de uma centena de clientes. Passados dez anos, a Altice Portugal não revela quantos são os clientes que, além da própria Altice, têm servidores naquelas instalações. Fonte oficial da empresa diz apenas que são “clientes dos mais diversos sectores de actividade”, como retalho, banca, seguros e saúde.

“Na última conversa que mantive com o CFO [administrador financeiro] da Altice antes das convulsões [Operação Marquês], foi-nos dito que havia uma empresa na iminência de comprar o terreno e o edificado”, relata Vítor Pereira. “A ideia é que a Meo iria manter-se como inquilina” do centro de dados, mas “a perspectiva é que se poderia aumentar a actividade que ali já exercem e que a tal empresa poderia arrendar o espaço a outras operadoras”, conta o autarca ao PÚBLICO, a propósito da conversa com Alexandre Matos, o ex-administrador financeiro da Altice Portugal.

A Altice não tem qualquer obrigação de pôr o município a par de novos desenvolvimentos do negócio e, “no contrato que foi celebrado, a única obrigação era a de construir mais dois blocos, mas, se isso não acontecer, também não há consequências”, reconhece. De qualquer forma, o uso daquele terreno está reservado ao centro de dados e por isso “não pode ser usado para especulação imobiliária”.

“Estou esperançado que isto seja bem aproveitado por quem o comprar, nem me passa pela cabeça que seja malbaratado”, diz o autarca, lembrando que há outros investimentos de base tecnológica na região, o que se deve em parte à proximidade da Universidade da Beira Interior (UBI), que “consegue fazer cursos à medida para estas empresas”. Segundo a Altice, a parceria com a UBI, que a PT estabeleceu em 2013, “resultou na primeira Pós-Graduação do país em Tecnologias de Informação e Serviços Cloud”. O curso só teve duas edições.

Zeinal Bava com Passos Coelho na apresentação do centro de dados na Covilhã, cuja câmara é agora liderada por Vítor Pereira. Público

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