Do Maj General Carlos Branco agora relegado para as emissões depois da meia noite na CNN americana.
"Passados quase três meses desde o seu início, torna-se claro que a contraofensiva ucraniana não atingiu o objetivo a que se tinha proposto: chegar ao Mar de Azov, tendo apenas conseguido aproximar-se, nalguns sítios, da principal linha defensiva russa. Perante estes desenvolvimentos interrogamo-nos sobre qual será o passo seguinte, uma vez não existir unanimidade nem consenso sobre a matéria.
A maioria das respostas enquadra-se em duas abordagens genéricas: uma que defende a possibilidade de se avançar para uma solução política, e outra que defende a continuação dos combates, e a preparação de uma nova ofensiva em 2024 e, se for preciso, outra em 2025, até ao último ucraniano.
A generalidade dos defensores da primeira abordagem são ou encontra-se próxima dos decisores políticos ou de quem tem responsabilidades executivas no establishment político norte-americano. Incluem no seu cálculo estratégico o impacto benéfico que o congelamento da situação militar poderá vir a ter nas eleições presidenciais norte-americanas, a realizarem-se lugar no final de 2024, independentemente de o conflito poder ou não ser retomado mais tarde, aproveitando-se a pausa nos combates para armar, treinar e equipar as debilitadas forças armadas ucranianas.
Embora o congelamento da situação militar não signifique a vitória de ninguém, é mais vantajoso para a Ucrânia e para os EUA, não só pelo motivo já explicado, mas também porque dá mais tempo aos EUA para implementarem a sua diplomacia informal, permitindo-lhes negociar com Moscovo acordos vantajosos para lá do Teatro de Operações da Ucrânia, que lhe proporcionem benefícios na competição com Pequim.
Contrariando um dos objetivos propostos, a contraofensiva ucraniana não veio trazer maior poder negocial à Ucrânia, conferindo-lhe a possibilidade de se sentar à mesa das negociações numa situação vantajosa. Pelo contrário, não só evidenciou a incapacidade de Kiev repelir as forças russas do território ucraniano impossibilitando a concretização do seu objetivo estratégico, como causou imensas baixas, difíceis de repor, e um imenso rombo nos equipamentos fornecidos pela ajuda internacional, colocando-as numa situação de extrema vulnerabilidade.
Em alternativa, poder-se-ia negociar, eventualmente, uma solução política mais ambiciosa, para lá de um “simples” congelamento da situação tática, do tipo coreano ou alemão (oeste e leste). Esta abordagem tem vindo a ganhar um número cada vez maior de aderentes (entre outros, Sarkozy, Viktor Orban, etc.). As eleições em setembro na Eslováquia poderão alargar a lista dos apoiantes desta causa.
A comunicação social norte-americana próxima do Partido democrata tem-se inclinado nesta direção. O Secretário de Estado Antony Bliken terá procurado, na sua recentemente “prolongada” estadia em Kiev, persuadir o presidente Zelensky da bondade deste tipo de soluções. A favor desta resposta, estaria o cansaço internacional do apoio prestado a Kiev com tendência para diminuir. Como escreveu Fareed Zakarias, “os ucranianos estão determinados a perseverar, mas temem que os seus aliados não o façam.”
Está por determinar se as recentes demissões dos vice-ministros ucranianos da defesa não visarão colocar em posições críticas do aparelho de estado elementos facilitadores deste tipo de soluções."
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