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11 de março de 2023

Os grandes problemas do país

Se o sr. extraterrestre aparecesse neste país (como consta de um fado) verificaria que o maior problema, além do futebol, era um chamado caso TAP. Mas a TAP não seria um problema se não fosse inventado. Trata-se da “invenção” posta a funcionar pelo grande capital através dos seus delegados, a burocracia da UE, que quanto mais privatizações melhor. Por detrás disto não está nenhuma teoria, mas um conjunto de dogmas. Dogmas não formam um a teoria, formam crenças.

Daqui serem colocadas na gestão de topo pessoas “muito competentes”, do ponto de vista da oligarquia, cuja função é preparar empresas para serem privatizadas, vendidas o mais barato possível. Antes foram reduzidas de pessoal, salários e âmbito de atuação, para poderem ser apenas fonte de lucro sem problemas de conflitos sociais ou de concorrência. Quem se ocupa deste tráfico é bem pago e não está lá para outra coisa senão para enriquecer, já que a sua função fundamental é proporcionar à oligarquia mais riqueza, em ativos e lucros e eliminar concorrência.

Não há privatização que não tenha tido o seu historial de corrupção e/ou fraude. Da Sorefame, às PPP, EDP, Cimpor, PT, ANA, etc. A questão é que a burocracia da UE considera que países como Portugal não devem acalentar veleidades de ter empresas nacionais em sectores estratégicos. Os “europeístas” lobotomizados alinham e acham que faz parte da “solidariedade europeia”. Mas na sua “Europa” a única solidariedade é com a finança e – como a guerra na Ucrânia evidencia - com a geopolítica imperialista.

No mundo da burocracia de Bruxelas, cuja racionalidade só faz sentido dentro do seu quadro de dogmas e ilusões, está decido que a UE para “ser grande outra vez” (até nisto querem copiar os EUA) é necessário acelerar a concentração capitalista que, muito erradamente,acham favorecer a competitividade. Toda a economia clássica (não é preciso ir a Keynes, Marx ou Lenine) diz o contrário, embora à seja à sua sombra que se promove a obscena riqueza dos oligarcas e seus séquito de cortesãos.

Claro que disto não se fala nos media: não têm por função difundir a verdade, mas tornar a verdade difusa. Quanto menos as pessoas veem da realidade melhor, basta umas réstias selecionadas para se dizer que há livre informação.

Mas há problemas bem reais como a produção na indústria transformadora (IT) e o défice da BC de bens. O índice médio de produção da IT (corrigido de calendário e sazonalidade) foi em 2022, 99,5. Isto é, a produção é inferior à de 2015 (base 100): em 7 anos totalmente estagnada! Contudo o volume de negócios aumentou cerca de 30%, refletindo uma inflação que se torna estrutural, dada a insuficiente produção.

O remédio que o sistema tem para isto, receitado de Bruxelas e Frankfurt é como se sabe reduzir o salário real. O que mostra a incapacidade deste sistema poder melhorar as condições de vida da população.

Esta situação é gravíssima, a IT é essencial para o desenvolvimento de qualquer país, aumento da produtividade, melhoria das condições de vida, crescimento sustentado a médio e longo prazo. Em vez disso o país dedica o seu esforço e qualificações de licenciados, envolvidos na bolha de especulação imobiliária, ou remete-se ao turismo, uma atividade de baixa produtividade e precariedade. Isto além dos que emigram, devido aos baixos salários e condições de trabalho, um grave problema em que as despesas sociais ficaram a cargo do país a mais-valia gerada é recebida por outros. Mais uma “solidariedade europeia”...

Estas deficiências e insuficiências produtivas refletem-se no défice da BC de bens, 30,7 mil milhões de euros em 2022 (dados do Boletim Mensal de Estatística, emitido em março). Deste total, 20,5 correspondem ao défice com UE (27) e 10,3 extra UE (incluindo RU). O turismo ajuda a reduzir aquele défice que incluindo bens e serviços ficou em 2022 em cerca de 6 mil milhões de euros. Mas o turismo não é uma atividade de muito reduzida dinamização económica e nada estruturalmente transformadora. Isto só é conseguido pela IT.

No défice da BC de bens, os produtos alimentares e da agricultura correspondem a 19,5%; combustíveis 37,2%; produtos químicos 22,6% metais comuns 8%; máquinas e equipamentos 23,2%; veículos e material de transporte 4,75%. A taxa de cobertura das importações é apenas 71,7%.

Temos assim que no sector agroalimentar o défice atinge cerca de 6 mil milhões de euros; combustíveis 11,4 mil milhões; produtos químicos 7 mil milhões; metais comuns 2,5 mil milhões; máquinas e aparelhos 7 mil milhões; veículos e material de transporte 1,4 mil milhões. As exportações onde há excedente são principalmente papel e pasta 2 mil milhões; calçado 1 mil milhões; minérios e metais 1,5 mil milhões (em grande parte apenas transformados para facilitar transporte) vestuário 500 milhões.

As prioridades seriam colmatar estes enormes buracos, substituindo importações ou reduzindo o consumo de combustíveis desenvolvendo a rede de transportes públicos e desligando-se da russofobia imperialista que encareceu combustíveis. Mas a “liberdade de informação” não vai tão longe. É altura de ser abordada esta temática.


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