Das Redes Sociais e não só . Concorde se ou discorde se vale a pena não perder . Cinco pontos.
1 "Sejamos claros, as medidas do governo visam apenas mascarar uma coisa que é o não aumento de salários e pensões de acordo , pelo menos , com a taxa de inflação. Quanto à fantasia de que a actualização dos salários faria aumentar a inflação esta visa apenas justificar a colocação dos salários, pensões, e prestações sociais a pagar o endividamento externo , a guerra na Ucrânia e os lucros das distribuidoras e dos grandes grupos económicos.
Aliás
se assim fosse a Bélgica que tem os salários indexados à inflação isto é que faz uma actualização periódica dos
salários em relação ao índice de preços estaria com uma taxa de inflação muito
superior a Portugal e à média europeia o que não é verdade." C.V.
2 Brasil 111
"Ontem o ilustre juiz Campos Almeida fez uma síntese que diz tudo.
"
Há uma guerra por procuração com os EUA de fora, mas no comando e há
um tribunal Penal Internacional, não confundir com o de Haia, teleguiado
pelos americanos mas em que estes nem sequer o reconhecem." A.G.
3 ATENÇÃO: JOÃO CRAVINHO AVISA PUTIN» - Por Carmo Afonso
(na coluna "Sementes de alfarroba", Público de 24/ Março/2023)
João
Gomes Cravinho afirmou que Portugal assumiria as suas
responsabilidades, caso Putin entrasse no território nacional. O que é
que isso significa? Que, nesse caso, as autoridades portugueses deteriam
o Presidente russo ao abrigo do mandado de captura emitido pelo
Tribunal Penal Internacional por crimes de guerra cometidos na Ucrânia.
Podemos
imaginar as nossas forças policiais a deter o sr. Putin e a levá-lo
para um calabouço ou estabelecimento prisional. Antes disso, também
podemos imaginar o grande transtorno que será para Putin não poder
viajar para Portugal perante este aviso.
Voltemos à realidade.
As
posições portuguesas no que respeita a relações internacionais vão
sempre no mesmo sentido, ou seja, escolhemos um lado. Por causa disso já
errámos: fomos anfitriões de uma cimeira nos Açores que constituiu uma
mera formalidade para a guerra que já estava decidida. Essa guerra,
agora com outros intervenientes, arrasta-se até hoje com consequências
gravíssimas.
No final dessa cimeira Bush declarou
que “o ditador do Iraque e as suas armas de destruição maciça são uma
ameaça à segurança das nações livres”. Quatro dias depois começava a
guerra. As ditas armas nunca foram encontradas. Os quatro intervenientes
na cimeira – Bush, Blair, Aznar e [Durão] Barroso – acabaram mais tarde
por reconhecer que elas não existiam. No ano seguinte ao do início da
guerra, Kofi Annan, secretário-geral da ONU, disse que ela era ilegal.
Claro que nunca existiram quaisquer consequências para os quatro líderes
políticos que a desencadearam.
Como dizia:
Portugal escolheu um lado no que respeita à política externa. Defendemos
o eixo euro-atlântico, ou seja, uma Europa que não ponha em causa a
aliança com os Estados Unidos. Esta visão reflete efetivamente a posição
da maioria dos portugueses e, nesse sentido, é a correta. Quem se opõe
ao chamado “imperialismo dos Estados Unidos” é minoritário na
comunicação social, nas redes sociais e no café da esquina. Que não
existam dúvidas neste aspeto.
A guerra na Ucrânia
veio intensificar o sentimento nacional de pertença a esse eixo
euro-atlântico. Dou-vos um exemplo: já muitos terão percebido que a
expansão da NATO em direção à Rússia foi um erro. Reconhecer isto não
significa que se considere que a invasão seja legítima ou que esteja
justificada. Mas é irrelevante. A maioria dos portugueses não aceita que
se condene a invasão, se esteja solidário com o povo ucraniano e, ao
mesmo tempo, se tente analisar os antecedentes da guerra. Ou se faz uma
coisa, ou se faz outra. Quem tenta fazer as duas é “putinista”.
Aconteceu ao Papa Francisco.
Neste momento há muito
mais para ver ou, se quisermos, muito mais para não vermos. O mundo
está a mudar por causa da guerra. Novos eixos geopolíticos estão a
desenhar-se. A China estabeleceu vários acordos com a Rússia e mais
entendimentos estão na calha entre países africanos, asiáticos e
sul-americanos. A Arábia Saudita e o Irão restabeleceram relações
diplomáticas e Moscovo está a promover um processo de reaproximação
entre a Síria e a Turquia. Nada disto inclui a Europa. Tudo isto a
diminui. Pior: a ideia de Putin estar isolado está declaradamente
ultrapassada.
Os Estados Unidos estão a perder
terreno e não são boas notícias. Há um cansaço internacional do
imperialismo americano e do que resta do colonialismo europeu. Não foram
acidentais as recentes críticas do Presidente da República do Congo a
Macron, a tomada de posição do Mali ou a presença de 40 países africanos
na conferência preparatória da cimeira África-Rússia. Representam
erupções de uma lava que percorre as entranhas dos países que foram
colonizados e que ainda convivem com resquícios dessa colonização. A
China e a Rússia marcam presença junto desses países e aumentam a sua
influência num momento que pode ser de viragem. Estamos a ser
ultrapassados pela esquerda e pela direita.
Fazer
parte do eixo euro-atlântico já nos levou a participar em atrocidades.
Mas estávamos no lado do poder. Agora queremos defender quem sofre
atrocidades, ou seja, o povo ucraniano. Só que o mundo dá sinais de que
esse eixo já não ocupa uma posição de domínio.
Claro
que continuamos a agir como se assim não fosse e como se tivéssemos as
costas aquecidas pelo intacto poder geopolítico europeu e dos Estados
Unidos. Fechar os olhos é um desporto nacional. Deve ser por isso que
não estranhamos que o nosso ministro dos Negócios Estrangeiros ameace
prender o Presidente da maior potência nuclear mundial. Ele que tenha
muito cuidado e não ponha os pés em Portugal.
4 O DIREITO - O NOSSO E O DO OUTROS
Miguel Sousa Tavares, in Expresso, 24/03/2023
Se,
de facto, a Rússia raptou 6000 crianças ucranianas e, à revelia dos
seus pais, as levou para a Rússia, com o conhecimento ou o consentimento
do Presidente russo, então Vladimir Putin pode ser indiciado pelo
Tribunal Penal Internacional (TPI), órgão das Nações Unidas, sob a
acusação de crime de “genocídio”, ao abrigo do artigo 5º, alínea e), dos
seus estatutos, que reza o seguinte: “Transferência, à força, de
crianças do grupo para outro grupo.”
Porém,
tal pressupõe previamente diligências de investigação, de prova, de
notificação, de contraditório e de defesa que, nos termos do artigo 18,
manifestamente não parecem ter sido feitas antes de, com todo o ribombar
de canhões na imprensa internacional, o TPI ter declarado Putin
“arguido” e contra ele ter emitido um mandado de captura que dizem ser
válido em 142 países signatários dos seus estatutos, Portugal incluído —
como pressurosamente informou ao país e ao mundo o ministro João
Cravinho.
Mas, além dessa
minudência processual, concorre ainda outra questão nada menor. Sucede
que, não só a Rússia — para efeitos processuais definida como “outra
parte” — não é signatária e membro do TPI como não o são também países
como Israel, a Turquia, a Arábia Saudita ou os Estados Unidos. Et pour
cause.
Se o fossem, Israel cairia sob a alçada do artigo 7º, alínea j) — “Crimes contra a Humanidade”, por apartheid;
a
Arábia Saudita veria o seu príncipe regente, o que mandou cortar às
postas o jornalista saudi-americano Khashoggi na embaixada saudita de
Istambul, e a quem Biden foi visitar a Riade para lhe pedir em vão
petróleo, acusado por “homicídio”, ao abrigo do artigo 7º, alínea a);
Erdogan,
a quem os outrora Estados de honra da Escandinávia agora mendigam um
nihil obstat para que eles os deixe entrar na NATO, seria declarado
cadastrado internacional nos termos do artigo 7º por todos os “crimes
contra a Humanidade” que pratica à vista de todos contra a comunidade
curda do seu país;
a
NATO, com os Estados Unidos à cabeça, e o ex-Presidente George W. Bush
teriam de responder, de acordo com o artigo 8º, que reza sobre os
“crimes de guerra”, sobre os 78 dias de bombardeamentos aéreos de
Belgrado, onde morreram 2500 civis inocentes em troca de conseguir a
rendição do criminoso de guerra Slobodan Milosevic, transportado em
glória para ser julgado em Haia… pelo TPI,
ou
sobre a “Operação Choque e Pavor”, mais conhecida como a 2ª Guerra do
Iraque, responsável por 100.000 mortos, quando um grupo de aliados dos
americanos, incluindo Portugal, invadiu um país soberano para procurar
armas que não existiam — ambas as operações sem mandato da ONU;
e
os Estados Unidos e três dos seus Presidentes, incluindo o actual,
teriam de responder, nos termos do artigo 7º, alínea e), pelo crime de
“prisão ou outra forma de privação da liberdade física grave, em
violação das normas fundamentais do direito internacional”.
Porque
Abu Ghraib (fechada em 2014) e Guantanamo são prisões ilegais, fora de
quaisquer jurisdições reconhecidas, para onde os presos foram
transportados clandestinamente (e com a cooperação portuguesa), depois
de terem sido sequestrados nos seus países, e onde estão, alguns
porventura inocentes, há dez ou doze anos, sem direito a advogados, a
contactos com as famílias e a correspondência com o exterior, sem serem
julgados ou condenados, a poderem ser torturados por ordem presidencial,
e a poderem ficar ali até ao final da vida sem que nenhum tribunal se
preocupe com eles.
Sim,
Putin não é flor que se cheire. É mesmo um assassino, como disse Biden.
Tem aquele hábito desagradável de se livrar dos seus adversários
envenenando-os no estrangeiro ou fazendo-os suicidar-se saltando do alto
de prédios na Rússia. Nisso, como em outras coisas, embora mais
brandamente, segue a tradição dos czares russos que empalavam os seus
inimigos fora das muralhas do Kremlin e ali os deixavam a agonizar para
servirem de exemplo. Na guerra da Ucrânia, seguramente que, em Bucha e
não só, os russos cometeram barbaridades.
Mas
só quem não conheça a história da selvajaria secular dos eslavos e da
barbaridade das guerras civis, como esta é, só quem ainda se deixe
embalar pela narrativa unilateral que aqui, no Ocidente, nos é servida, é
que pode acreditar que esta é uma guerra única: bandidos de um lado,
anjinhos do outro.
Às
tantas, a Amnistia Internacional ousou quebrar timidamente essa
unanimidade informativa e opinativa estabelecida como verdade única e
logo foi trucidada e silenciada na Ucrânia e nas “democracias liberais”.
Temos,
pois, Putin, como fugitivo internacional, segundo um critério judicial
que se aplica a ele mas não a outros. E o que ganhamos com isso?
Segundo
uns crânios domésticos de Relações Internacionais e Direito
Internacional que tenho escutado, ganhamos muito: agora o homem está
diminuído, desprestigiado, acossado. E foi esse pobre e irrelevante
homem, esse desprestigiado fugitivo a quem o ministro Cravinho e mais
141 dos seus homólogos prometem deitar a mão, que eu vi esta semana
receber em Moscovo o outro homem que vai decidir os destinos do mundo:
Xi Jinping.
Aquele sobre
quem, numa perfeita definição da imensa estupidez aonde nós, o
Ocidente, chegámos, um comentador político chinês resumiu a mensagem dos
Estados Unidos: “Ó Xi, diga lá ao Putin que vai deixar de o apoiar para
que a seguir nós nos ocupemos de si sem ter a Rússia a apoiá-lo.”
Caramba,
e andam aqui os nossos mestres, professores doutores de Relações e
Política Internacional, os auditores dos cursos de Defesa Nacional, os
autores (que são sempre os mesmos, dê o mundo as voltas que der) dos
Conceitos Estratégicos de Defesa Nacional, a elaborar consumadas teses
sobre geoestratégia mundial e, afinal, um modesto comentador da TV
chinesa resume tudo numa simples frase que transforma tudo o resto em
absoluto ridículo!
Como
disse Aleksandar Vucic, Presidente da Sérvia, a consequência mais óbvia
da declaração do TPI é que a Ucrânia fica sem interlocutor com quem
negociar a paz.
Mas não
será isso justamente o que se pretende? Todas as tentativas de mediação
surgidas até agora, por mais tímidas que fossem, foram descartadas à
partida pelo Ocidente, por inviáveis ou não credíveis: a do Brasil, a da
Turquia, a da China, a do Papa.
Eufórico,
o secretário-geral da NATO, Stoltenberg, já avisou que na próxima
cimeira da organização, em Vilnius, vai pedir que o patamar dos 2% do
PIB que cada membro tem de gastar com a defesa seja aumentado, e não faz
segredo que a área de influência e futura actuação da NATO deve
estender-se para a Ásia-Pacífico, assim acompanhando a sua nova Carta,
não escrita, que é a de ser a extensão do braço armado dos Estados
Unidos, aonde quer que ele vá.
Quanto
à Ucrânia, e como explicou Teresa de Sousa em recente artigo no
“Público”, permaneceremos amarrados em duas posições inconciliáveis: o
“campo da paz” e o campo da guerra — perdão, o “campo da justiça”. Sendo
que, segundo ela, o campo da paz é-o “da paz a qualquer preço”, e o da
“justiça” será então o da guerra a qualquer preço, visto que a justiça
não tem preço.
Mas eis
que agora andam muito incomodados porque, depois de terem passado um ano
a tecer loas ao inacreditável fortalecimento do Ocidente que o
aventureirismo de Putin tinha proporcionado, olham à roda e vêm uma
Europa economicamente destroçada e a China a ocupar paulatina e
sabiamente todo o resto do mundo deixado para trás e que estranhamente
não vê vantagem em “ocidentalizar-se” — para usar a expressão
escandalizada de uma ex-embaixadora americana na NATO. Tudo isto vai
acabar espantosamente mal para o Ocidente.
2
Já toda a gente percebeu que este plano governamental para a habitação
foi feito em cima do joelho e fruto do desespero e da desesperança. É
verdade, porém, que não se conhece nenhum outro em alternativa nem tal
seria possível. Porque a situação actual não reflecte, de facto, uma
crise de habitação, mas uma crise anterior, a montante e muito mais
profunda, que nenhum plano de urgência resolverá num par de anos.
Numa
das muitas discussões que ocorrem, ouvi dizer que o problema estoirou
porque, enquanto que até à última década se construíam 800.000 casas a
cada dez anos, na última década só se construíram 100.000. Mas não é
esse o problema: basta percorrer o país para ver que não faltam casas
vazias em Portugal, mas se o Governo quiser deitar-lhes a mão, não
encontrará ninguém que queira ir viver nelas.
Não
há um problema de falta de casas em Portugal: há, sim, em Lisboa e no
Porto e suas periferias. E esse problema chama-se desertificação e
abandono do interior e começou a sério há 30 anos.
E
sabem quem foi o primeiro responsável político por ele? Um senhor que
ainda há dias fez um sermão à pátria, como sempre culpando os outros
pelos problemas que ele, na altura, jurou ter deixado resolvidos para
sempre.
Esse mesmo:
Aníbal Cavaco Silva. Há 30 anos — e porque na sua imensa incultura
política não percebeu que a agricultura era muito mais do que um negócio
de deve e haver —, Cavaco Silva começou por vender a agricultura
portuguesa a Bruxelas por tuta e meia.
Aí
se iniciou o processo de morte do mundo rural e consequente êxodo para
as cidades, acentuado depois pelo abandono, sempre subsidiado, das
pescas, das indústrias extractivas, dos têxteis, sem nenhuma
contrapartida oferecida a quem se quisesse estabelecer no interior e no
vazio deixado.
Desprezando
o modelo europeu das cidades de média dimensão, Cavaco Silva abandonou
também os caminhos de ferro e dedicou-se a construir auto-estradas para,
como disse então Ribeiro Telles, os espanhóis colocarem cá mais
depressa os produtos deles.
Foi
quando, seguindo sempre um critério rentabilista, se começaram a fechar
hospitais e centros de saúde na província, tribunais, correios,
escolas, tudo o que representasse a presença do Estado junto dos
portugueses, que viviam num círculo vicioso de despovoamento. Apostou
tudo nos serviços e no turismo, convidando os portugueses a virem viver
para o Porto e Lisboa ou para trabalharem no Algarve, no Verão.
Quem
veio a seguir a ele continuou o mesmo caminho sem retorno para um país
que hoje parece sem salvação à vista. E não foi por falta de avisos ou
falta de estatísticas e relatórios crescentes do que se estava a passar.
Foi porque, como sempre, nunca há tempo de pensar o país além da
próxima eleição ou da próxima greve.
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