A UE/NATO rejeitou não apenas o marxismo, mas a base marxista da economia clássica de Adam Smith, John Stuart Mill e seus contemporâneos, enquanto o liberalismo das Escolas Austríaca e de Chicago destruiu as economias da NATO a partir de dentro.
A divisão (mundial) reflete o conflito entre o neoliberalismo ocidental e a lógica tradicional do capitalismo industrial. O Ocidente desindustrializou-se substituindo o capitalismo industrial pelo capitalismo financeiro, numa tentativa de manter salários baixos, mudando-se para o exterior para empregar mão-de-obra barata e para tentar estabelecer privilégios de monopólio, tornando-se economias rentistas.
A escolha do ocidente de privatizar e financeirizar a sua infraestrutura básica, desmantelando o papel do governo e transferindo o planeamento para Wall Street, Londres e outros centros financeiros, deixou-o com pouco a oferecer a outros países – exceto a promessa de não bombardeá-los ou tratá-los como inimigos se procurassem manter a sua riqueza nas próprias mãos em vez de transferi-la para transnacionais.
O resultado é que, quando a China e outros países constroem suas economias são tratados como inimigos. É como se os diplomatas dos EUA vissem que o jogo está perdido, e que sua economia se tornou tão endividada, privatizada e de alto custo que não pode competir, que simplesmente espera continuar tornando outros países tributários, dependentes, pelo maior tempo possível até que o jogo finalmente acabe.
O euro é apenas uma moeda satélite do dólar. Empresas que ganham euros domésticos valem cada vez menos dólares ou outra moeda forte. Quanto ao ouro terá que ser mantido nos países que o possuem, para que não possa ser capturado, como foi feito ao ouro da Venezuela e o deu ao representante de direita dos EUA. (Michael Hudson dá uma entrevista a uma revista alemã | A Vinha do Saker )
A Europa será instruída a continuar a boicotar a Rússia e seus aliados, em vez de buscar ganhos mútuos por meio de comércio e investimento recíprocos. Os EUA podem instar a Polónia e outros países a "lutar até o último polaco" ou lituano, imitando a Ucrânia. Insistirá para que a Europa gaste uma soma imensa para se rearmar, principalmente com armas dos EUA. Esta despesa irá afastar as despesas sociais para ajudar a lidar com a crescente depressão industrial ou subsídios para reavivar a indústria. Uma economia militarizada irá tornar-se uma sobrecarga crescente – enquanto as dívida dos consumidores e da indústria aumentará, juntamente com a do governo.
A Ucrânia dificilmente pode ser reconstruída. Grande parte de sua população partiu, e é improvável que retorne. A Ucrânia é propriedade principalmente de um grupo restrito de cleptocratas que tentam vender o país a investidores agrícolas ocidentais. Está endividada e tornou-se um feudo do FMI (na prática, da NATO). A UE será convidada a "contribuir", e as reservas russas apreendidas podem ser gastas na contratação de empresas dos EUA para a reconstrução de uma pretensa de uma economia ucraniana, deixando o país ainda mais endividado.
Um novo secretário de Estado do Partido Democrata ecoará Madeline Albright e dirá que a destruição da economia,a morte de civis e soldados da Ucrânia "valeu a pena" como custo de espalhar a democracia ao estilo dos EUA.
As sanções dos EUA foram uma dádiva para a Rússia. Na agricultura, as sanções contra exportação de produtos agrícolas levou ao florescimento de um setor doméstico russo de queijos e laticínios. A Rússia é agora o maior exportador de cereais do mundo. As sanções ocidentais tiveram o mesmo efeito que as tarifas de proteção e as cotas de importação que os Estados Unidos usaram nos anos 1930 para modernizar seu setor agrícola.
A Rússia precisava do isolamento económico, do protecionismo, mas ainda estava muito fascinada pela política neoliberal de livre comércio. Então os EUA fizeram por isso. A autossuficiência russa é a melhor defesa contra a desestabilização económica dos EUA para forçar a mudança de regime.
Um efeito é que a Rússia precisará comprar muito menos da Europa, mesmo depois que os combates na Ucrânia terminarem. Portanto, haverá menos necessidade da Rússia exportar matérias-primas para a Europa. O núcleo industrial europeu pode acabar na Rússia e seus aliados asiáticos ou nos Estados Unidos. Esse é o resultado irónico da nova Cortina de Ferro da NATO.
A NATO continua afirmando que é uma aliança defensiva. Mas a Rússia não tem nenhum desejo de invadir a Europa. A razão é óbvia: nenhum exército pode invadir um grande país. Mais importante, a Rússia nem sequer tem um motivo para destruir a Europa como um adversário fantoche dos EUA. A UE/NATO está a autodestruir-se. (https://michael-hudson.com/2022/11/the-rentier-economy-is-a-free-lunch/ )
A China avança usando um setor ativo do governo para subsidiar necessidades básicas. Transporte, educação pública, saúde públicos. Tudo isso é papel do governo.
Desde que Reagan e Thatcher privatizaram o setor público, o que era setor público agora tenta obter lucros. Por exemplo, na Filadélfia a empresa ferroviária privatizada, separou os imóveis da ferrovia e depois vendeu-os, ficando as ferrovias sem financiamento, o custo subiu muito. Foi assim em todos os sectores. A saúde privatizada nos Estados Unidos representa 18% do PIB.
A China não só manteve as infraestruturas básicas no domínio público, mas também a utilidade pública mais importante, a BANCA. O Banco da China cria crédito, não para empréstimos de aquisição de empresas, leva-las à falência e reduzir o emprego, mas ajudar a economia a crescer. A função do banco controlado pelo governo é aumentar o investimento e o emprego, a construção de habitações e suprir as necessidades básicas da economia.
E é isto que os Estados Unidos chamam autocracia. Os Estados Unidos dizem que a China é uma autocracia porque tem bancos públicos em vez de deixá-los em mãos privadas Obviamente as autocracias são países socialistas com uma economia mista onde o governo fornece necessidades básicas públicas que as democracias não têm. As democracias abolem a infraestrutura, privatizam-na, vendendo-a a compradores americanos ou europeus.
Dizer que não existem necessidades humanas básicas, que a terra pode ser uma mercadoria para obter ganhos financeiros cobrando rendas. Não existe uma necessidade pública de saúde, a saúde não é um direito básico, é uma oportunidade de monopólio para as empresas farmacêuticas e as seguradoras de saúde obterem enormes ganhos.
Ter um emprego não é um direito público e perder um emprego é o direito da classe financeira e empresarial de criar desemprego suficiente para manter os salários baixos, para que os lucros possam subir. Basicamente, na versão EUA, uma democracia é um país que vive no curto prazo para laços privados e ganhos financeiros.
Uma autocracia leva em conta o planeamento de longo prazo, mantém o planeamento no setor democraticamente eleito, não nas mãos de centros financeiros como Wall Street, Paris, Londres ou outros centros financeiros. A divisão real do mundo não é democracia versus autocracia, é financeirização versus economias mistas socializadas.
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