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4 de agosto de 2024

 POLÍTICA E MATEMÁTICA NO GUIÃO VENEZUELANO

Rui Pereira ( facebook)

Com variações de circunstância e de tecnologia (e.g. ataque cibernético ao Conselho Eleitoral), a técnica do golpe de Estado, é pouco imaginativa na sua versão Caracas/Corina, como na sua anterior versão Caracas/Guaidó, como nas suas múltiplas versões contra o poder em Havana desde há décadas e décadas e, na realidade, um pouco por todo o mundo dito das “relações internacionais baseadas em regras”.
À medida que se vão ouvindo os lados da disputa e, sobretudo, conhecendo detalhes da operação de golpe de Estado na Venezuela, percebe-se o embuste, mesmo apesar das acusações cruzadas a seu respeito ou das dúvidas que possam emergir acerca do poder venezuelano e das certezas que se podem ter acerca do seu "opositor" (ver https://estatuadesal.com/2024/08/03/candidato-derrotado-na-venezuela-foi-operacional-da-cia-na-operacao-condor-em-el-salvador/).
 Percebe-se o modelo “internacional” em que um conjunto de países começa por declarar a “fraude” eleitoral (o creditadíssimo argentino Milei joga  aqui a ponta de lança), enquanto os Estados Unidos adotam uma “posição expectante supra partes”, para, dias mais tarde, como Blinken acaba de fazer declarando a vitória da “Oposição”, descerem do seu Olimpo julgador e, “imparcialmente” proclamarem a Voz da América enquanto Voz da Razão e da Verdade Última (https://www.bbc.com/portuguese/articles/cn070v1ykemo).
No “terreno” desencadeiam-se, entretanto, todas as ações violentas possíveis, de modo a aparentar um caos pré-insurreccional que legitime a “intervenção no país “da Organização dos Estados Americanos” solicitada pela “Oposição”. Atinge-se, então e a partir daqui, o ponto em que conjugadamente todos os satélites e antenas podem proclamar a derrota de Maduro (Blinken dixit). Ainda que a partir de dados como estes, sobre as (supostas) Atas Eleitorais apresentadas pela “Oposição” tão manifestamente forjadas quanto este exemplo, fornecido pelo presidente do parlamento em Caracas. Transcrevo um pequeno excerto, com a demonstração gráfica na imagem abaixo em que um algoritmo atribui, “num padrão  matematicamente impossível” e de forma invariante as mesmas percentagens de votos a cada candidato, independentemente dos locais e das mesas eleitorais (ver https://misionverdad.com/venezuela/se-confirma-el-fraude-de-las-actas-divulgadas-por-la-oposicion):
“Números y porcentajes fabricados
[…] la oposición expuso datos porcentuales manipulados para proyectar que Edmundo González habría obtenido 63% de los votos, mientras que Nicolás Maduro solo 30%.
Los "datos" divulgados por la oposición se basaron en cifras distorsionadas del Registro Electoral Permanente (REP) en cada entidad, donde se adjudicaron "resultados" en votos para cada candidato para luego decidir arbitrariamente qué porcentaje tendría cada uno.
En consecuencia, el mapa electoral publicado por la oposición presenta "resultados" ya no similares, sino idénticos, en los 23 estados y los 335 municipios del país, lo cual es un patrón "matemáticamente imposible", afirmó Rodríguez, acorde a las realidades territoriales, culturales, demográficas y según los historiales electorales.
Esto sugiere que, por ejemplo, el comportamiento de los electores fue idéntico en todos los municipios, independientemente de las tendencias precedentes. Es decir,  que de acuerdo con esto, el chavismo logró en el municipio Chacao del estado Miranda —históricamente el más rico y opositor del país— un resultado idéntico al que obtuvo en el municipio Planas del estado Lara, donde el chavismo siempre ha ganado con contundencia”.
Quem tiver consciência e memória do sucedido em  1975 com a intervenção “ocidental”, chefiada in situ pela embaixada norte-americana de Frank Carlucci em Lisboa ou algum conhecimento de arquivos secretos dos Estados Unidos sobre o assunto entretanto desclassificados e de alguma literatura intencionalmente esquecida, produzida por diferentes dos envolvidos no golpe então desencadeado contra o ensaio revolucionário em curso (por todos, ver Rui Mateus, https://resistir.info/livros/contos_proibidos_rui_mateus.pdf), reconhece com facilidade o que está a acontecer em Caracas (onde nem os assaltos e incêndios contra sedes partidárias de Maduro faltam), como o que nunca deixou de acontecer um pouco por toda a América Latina ou em Tbilissi, em Kiev bem como entre nós, faz agora meio século.

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