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22 de agosto de 2024

No circo eleitoral, Kamala ri de quê?

O termo circo não será bem aplicado, embora se trate de uma série de truques medíocres para provocar aplausos delirantes aos que estão ali para isso mesmo. Trump chama Kamala de "comunista" por querer controlar preços - sem ela dizer como. No limite iria limitar-se a pedir ao grande capital para no seu interesse refrear um pouco a ganância - o capital fará o que melhor entender. Kamala não tem programa, a sua ideologia (?) é o "excecionalismo" dos EUA e o que faz melhor é rir de forma acéfala no espetáculo eleitoral em que quem manda é quem dá o dinheiro para a propaganda. Mas ri de quê?

Será que ri da dívida federal, que no período Biden - Kamala cresceu 6,5 milhões de milhões de dólares? Dos sem abrigo? Da violência e mortes sem sentido? De estudantes a prestarem serviços sexuais para pagarem dívidas? Das guerras em que envolvem todo o mundo?

Os EUA são o maior Estado-prisão do mundo. A população encarcerada é de cerca de 2,3 milhões. Nas prisões, a sobrelotação, violência e gangues são problemas comuns. O país registou mais de 21 500 homicídios em 2020, quase 59 por dia. Os tiroteios em massa são recorrentes, em 2024, até 31 de julho, um total de 473 pessoas foram mortas e 1528 ficaram feridas em 372 tiroteios.

As mortes por overdose continuam a aumentar, à medida que o fentanil e outros opioides sintéticos atingem níveis sem precedentes. Estima-se que 105 752 pessoas morreram de overdose de drogas no período de 12 meses que terminou em outubro de 2021.

O número de vítimas da violência armada é aterrorizador: Em média, 40 620 pessoas morrem por ano (2022) por armas de fogo nos Estados Unidos. A polícia também contribui para esta situação, em 2018 registaram-se 1348 mortes relacionadas com detenções entre junho de 2015 e março de 2016 (135 mortes por mês).

Graças á liberdade de escolha, a cantata dos liberais, os gastos em saúde nos EUA totalizam cerca de 18% do PIB, embora a expectativa de vida tivesse caído para o 33º lugar a nível mundial. Dados da KFF, apontam que, em 2023, o custo médio de um plano de saúde familiar era de 23 968 dólares. Quanto menor a mensalidade, maior vai ser o desembolso em caso de internamento ou cirurgia, por exemplo. Segundo o National Bankruptcy Fórum, 66,5% das falências pessoais no país estão relacionadas com despesas médicas. Estudos médicos apontam para 30% da população com sintomas de ansiedade ou transtorno depressivo, o que se reflete na taxa de suicídios. Segundo o Centro de Controle e Prevenção de Doenças, dos EUA, foram confirmados 49 449 suicídios em 2022.

Numa definição lata do termo sem-abrigo, incluindo pessoas que vivem na rua, em albergues ou temporariamente em casa de terceiros por não terem o seu próprio alojamento, existem nestas condições cerca de 4,2 milhões de crianças e jovens até aos 25 anos.

Nada disto parece ser preocupante no cenário da propaganda dos candidatos dos EUA. Vejamos mais exemplos dos "EUA uma economia de sucesso" (para os bancos...) e da liberdade de escolha numa economia privatizada.

Estima-se que 2,5 milhões de estudantes universitários recorram à prostituição para pagar as suas dívidas. Em abril de 2020, foi relatado que o site de encontros Seeking Arrangement teve um aumento de 74% no número de membros, gabando-se (!) de ajudar milhões de estudantes a evitar dívidas estudantis atendendo ao aumento das mensalidades e do custo de vida.

Num estudo referente a 2019 o Rutherford Institute, apresentou dados sobre o que se tornou um grande negócio nos EUA: o tráfico sexual, especialmente compra e venda de crianças. "Negócio" de crescimento mais rápido no crime organizado e apenas menos lucrativa depois de drogas e armas, arrecadando mais de 9,5 mil milhões por ano.

Estima-se que pelo menos 100 000 crianças - meninas e meninos - são compradas e vendidas para sexo nos EUA todos os anos. Algumas dessas crianças são sequestradas, outras são fugitivas e outras são vendidas por parentes e conhecidos. A idade média é de 13 anos, portanto há crianças menores de 13 anos. Essas crianças são atraídas, forçadas, traficadas, na maioria dos casos, não têm escolha.

Que conceitos humanistas, que valores éticos, que autoestima pode proporcionar uma sociedade que procede desta forma para com a sua juventude, a bem duma oligarquia gananciosa e anti humanista?

Mas será que a ridente Kamala pretende pelo menos acabar com as guerras (e o genocídio) em que os EUA se envolveram? Não, isto dececionaria os robots mediáticos, programados para se extasiarem com Kamala. A administração Biden-Kamala, aprovou em março, uma revisão da estratégia nuclear para os EUA se concentrarem nas "ameaças" da China, Rússia e Coreia do Norte. Aliás neste tema os EUA têm um "invejável" currículo. Num estudo de Nicholas J S. Davies, foi estimado que em 16 anos de guerras desde o 11 de setembro de 2001, os EUA provocaram cerca de 6 milhões de mortes violentas, 6 países completamente destruídos e muitos mais desestabilizados.

Não há dúvida, pelo que vemos e ouvimos, aqueles soviéticos eram do piorio...

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